Brasil é 4º país que mais produz lixo: empresas buscam mudar este cenário
Junho 2, 2020Reciclagem é um dos caminhos adotados não só por consumidores finais, mas também por companhias que apostam no consumo inteligente e no reuso para maior vida útil de insumos e matérias-primas
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) apontou que o Brasil perde R$ 8 bilhões por ano ao descartar equivocadamente materiais que poderiam ser reciclados. O valor alto condiz com a posição no ranking de países que mais produz lixo plástico no mundo: estamos em 4° lugar, com mais de 11,3 milhões de toneladas anuais, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia, segundo dados da WWF, ONG internacional que atua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental.
E mudar essa situação tem se tornado a bandeira de muitas empresas, que adotam a sustentabilidade como uma das práticas do cotidiano. Os exemplos crescem – e englobam diversos segmentos uma causa comum: reduzir a produção de lixo. Em Blumenau (SC), o Grupo Linear, empresa que desenvolve soluções para sistemas de escoamento, adotou ações internas corriqueiras que já estão fazendo diferença no dia a dia da empresa. Por exemplo: as folhas A4 são impressas frente e verso, no modo rascunho, para reduzir o consumo de tinta. As que não serão mais utilizadas, são fragmentadas por uma máquina. Esses papéis picados ficam à disposição do setor de expedição, que utiliza parte do material em substituição ao plástico bolha. “Outra ação é a separação e venda de papéis, plásticos, vidros e metais. A verba arrecadada é utilizada para eventos como confraternizações, encerramentos, cafés, presentes. Então os colaboradores vêem o retorno dessas ações a curto prazo e se engajam ainda mais nas ações, que já são corriqueiras”, destaca Regina Montandon, diretora executiva do Grupo Linear.
A Embalatec, empresa de soluções plásticas, também tem adotado medidas para conscientizar sobre o papel dessa matéria-prima na sociedade e de como, quando bem aproveitada, pode se tornar uma oportunidade de negócios. “O plástico pode ser reciclado e manter sua qualidade. Ou seja: o grande problema que temos hoje é o descarte incorreto, quando o insumo não volta para a cadeia. Ao ser reciclado ele ganha novas propriedades. É o caso das bobinas para corte têxtil que produzimos. Incentivamos o consumo material reciclado, que é tão eficiente quando a matéria-prima virgem”, comenta Eloy Queija, diretor da companhia.
Além de produzir e incentivar o consumo dos recicláveis, a Embalatec também destina corretamente os resíduos da fábrica. Plástico, papelão e material de escritório se tornam novos produtos depois de conduzidos para centrais de reciclagem.
Primeira empresa de TI do Brasil com lixo zero
Especializada em soluções de logística, a Lincros também abraçou a causa sustentável e se tornou a primeira empresa de tecnologia do país a conquistar o selo de Consciência Circular, disponibilizado em um projeto do Ministério do Turismo em parceria com a Carbo Brasil.
Nicole Franco, head de marketing da Lincros, explica que tudo o que pode ser reciclado é armazenado pela empresa para destinação correta. Materiais de escritório são enviados para a Carbo Brasil, que transforma o material em novos produtos. “Recentemente recebemos mais de 100 porta canetas oriundos da reciclagem. Eles foram desenvolvidos a partir dos materiais que nós mesmos mandamos para a empresa e isso nos apoia no processo de amadurecimento da consciência de reciclagem de toda a equipe”, diz Nicole. As próprias lixeiras utilizadas para a coleta dos materiais foram desenvolvidas através de recursos oriundos da reciclagem. Resíduos eletrônicos e pilhas também são tratados corretamente.
Outras ações também foram adotadas pela empresa para reduzir o consumo de materiais descartáveis. Os copos, por exemplo, foram substituídos por canecas de cerâmica. Ações de endomarketing para conscientização da equipe sobre a importância do lixo zero fazem parte da rotina dos profissionais. “Reciclar, reduzir, reutilizar e repensar os nossos hábitos de consumo são essenciais para uma verdadeira transformação ambiental”, afirma Nicole.
As oportunidades para otimização de recursos, no entanto, ainda são imensas: segundo a WWF, apenas 1,28% do plástico descartado no Brasil é reciclado. Conscientizar e começar com pequenos exemplos é o melhor caminho para mudar este cenário.
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Roberta Koki
Jornalista | Trevo Comunicação