Educação para o futuro – por Juliano Bona (O relativismo ocular!)
Maio 20, 2021
Como é difícil observar um fenômeno, acontecimentos, grupos, pessoas, seus comportamentos e expressões. Se deslocarmos nosso olhar para os espaços educacionais, as perspectivas mudam dependendo do local de observação. Mesmos os professores e professoras, auxiliares operacionais, coordenações, direções, alunos, a comunidade escolar como um todo, que circularem no mesmo espaço, todos, por sua vez, constroem diferentes perspectivas do que lhes acontece no período em que estão no trabalho.
Estamos diante de um regime de luz, e o observável passa a se moldar diante do que o globo ocular registra. Podemos nos perguntar sobre os processos, quais são forças que nos levam a construir diferentes perspectivas diante de uma escola que se objetiva de forma concreta diante de todos? Pergunta profunda que pode nos levar a diferentes análises. De forma imediata, poderíamos nos aventurar em sinalizar que as diferentes perspectivas dependem de nossas histórias como sujeitos, famílias, as relações sociais que construímos ao longo da vida. Em outro sentido, sinalizamos a necessidade de destacarmos os lugares institucionais, a maneira como as diferentes funções nos permitem enxergar as dinâmicas educacionais. O professor em sala, próximo aos alunos, a gestão, o motorista de ônibus, os pais que acompanham seus filhos nas atividades propostas, estão, de alguma forma, articulados a diferentes regimes de luz que lhes permitem analisar, em muitas situações, apenas uma parte do que acontece nos espaços educacionais.
Diante deste cenário, como podemos tratar, ou melhor, como podemos pensar nos movimentos, nos sujeitos que tem legitimidade de observar os fenômenos educacionais de modo mais amplo? Em última análise, trata-se de construir espaços de observação. Construir espaços de observação torna-se, em certa medida, um caminho longo e cheio de muitos desafios. Estudar, acumular diferentes experiências, construir espaços de discussão que perpassam os diferentes lugares, sala de aula, gestão, alunos, pais, mães, podem ajudar na edificação de um local mais amplos de observação do que acontece na escola.
Todos devem ser ouvidos, os mais variados lugares de fala precisam ser preservados. Todavia, não podemos cair em uma espécie de relativismo absoluto em que todos os pontos de observação têm o mesmo peso analítico. Valorizar e legitimar o poder de análise de quem está no chão da escola ultrapassa em muito argumentos ingênuos do que realmente acontece na educação. Retiro-me desses espaços por um momento, estou à procura e no movimento analítico de construir outros pontos de observação. A camada observacional se amplia, outras variáveis começam a ser consideradas. A falta do que já vivi em sala, no ambiente escolar, me aperta os olhos. A visão mais pura, mais próxima daquilo que chamamos de epistemologia educacional sempre estará próxima do chão da escola onde os pés circulam, onde os feixes de luz alcançam sua maior amplitude.
Juliano Bona – Doutor em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – Univali (2020). Professor de matemática, atua na equipe gestora na Rede Pública Municipal de Timbó/SC – Semed. Tem experiência no Ensino Superior nas seguintes áreas: Educação, Educação Matemática, Cálculo Diferencial e Integral, Geometria e Álgebra Linear. Desenvolve pesquisa na área da Educação, Gestão Educacional, Educação Matemática, Processo de Internacionalização do Currículo (IoC), Estudos Interculturais, Intermatemática e Filosofia da Diferença.