Educação para o futuro – por Juliano Bona (Professor, Estou com medo…)
Março 8, 2021
“Professor, Estou com medo…”
Mais um dia de muito trabalho, revisões, retomada e organização do ciclo 2020 – 2021. Depois de algumas aulas dadas, perto do fim de mais uma manhã de estudos, uma aluna se aproximou e me dirigiu a palavra: “professor, poderia conversar com você no final da aula”? Eu, de forma espontânea disse: “claro”. Depois da aula dada, o sinal fez agitarem-se os alunos e alunas que, começaram a sair das salas em direção a saída. Com movimentos lentos de arrumação, material pronto, a referida aluna olhou para mim e disse: “professor, estou com medo…”. Fiquei estático, não sabia o que responder. Depois de um pequeno intervalo de cinco segundo de silêncio absoluto, a única frase que me veio em mente foi: “eu também estou com medo”. Mais uns cinco segundos se passaram, a aluna enxugou suas lágrimas, respirou fundo e, já com a mochila nas costas, me disse: “tchau professor, até amanhã”.
Parado em frente ao quadro, sozinho, tomei um choque diante do que acabara de acontecer. Experiência marcante que me fez pensar de forma nua e crua um fato importante: não são apenas nós, professores, adultos, que estão com medo. Nossos alunos e alunas também sentem as pressões. Não apenas do vírus, mas da necessidade de sua presença na escola. Talvez esta aluna quisesse apenas perceber que eu também estava como medo, e isto, de alguma forma lhe despertou a coragem, a segurança de continuar. Nesse momento, ela percebeu que não era a única que estava com medo, que eu também estava. O conforto e o enxugar das lágrimas veio nesse momento, ela não está mais sozinha no mundo dos fantasmas pulverizados pelo temor de tudo o que vem nos acontecendo. É neste ponto que gostaria de chamar atenção para dois aspectos. Primeiramente, destacar a importância de conversar de forma clara com nossas crianças, adolescentes, sobre o que está acontecendo em nosso momento histórico, deixar claro os contornos e as consequências da pandemia em nossas vidas e, em hipótese alguma, ter medo de dizer que também está com medo. Essa franqueza cria uma espécie de lastro comunitário que nos deixa mais fortes diante das dificuldades, físicas e psicológicas. O segundo é a necessidade de mantermos as nossas escolas abertas. Este é apenas um exemplo de como a escola é importante na vida de nossos alunos. Em algum sentido, nossa interação fez esta aluna ficar mais forte e consciente de que compartilhar o medo é um sentimento positivo diante das dificuldades que enfrentamos. Ela não estava mais sozinha, não se sentia sozinha em um mundo que parece expressar a própria falta de luz, a escuridão de tanta tristeza com que diariamente nos deparamos.
Já temos dados concretos, estatisticamente tratados, que a taxa de transmissão na Rede Municipal de Educação de Timbó, pelos menos até o momento, é baixa. Números que nos permitem destacar e afirmar o que sempre desejávamos: as escolas são espaços importantíssimos e precisam estar abertos, não apenas para edificarmos o conhecimento, mas, e também, para combatermos a escuridão que está sobre nós, o medo, ou melhor, o medo que compartilhamos com nossos alunos. A luz, nossas salas são luz.
Me sinto honrado, horado por ter sido o escolhido…
Juliano Bona – Doutor em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – Univali (2020). Atua como professor de matemática na Rede Pública Municipal de Timbó/SC. Tem experiência no Ensino Superior nas seguintes áreas: Educação, Educação Matemática, Cálculo Diferencial e Integral, Geometria e Álgebra Linear. Desenvolve pesquisa na área da Educação, Educação Matemática, Processo de Internacionalização do Currículo (IoC), Estudos Interculturais, Intermatemática e Filosofia da Diferença.